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Manifestação de indignação a prisão de Lula


ARTICULAÇÃO BRASILEIRA DE LÉSBICAS


"Esse crime, o crime sagrado de ser divergente,
nós o cometeremos sempre." 
(Pagu)


Brasília, 08 de abril de 2018

A ABL vem a público se manifestar contra a prisão arbitrária do ex-presidente Lula, vendo esta como mais uma ação contra a democracia brasileira e aos direitos fundamentais garantidos constitucionalmente. Entendemos que o desrespeito a Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 5º abre precedente para violabilidade deste e de outros direitos de toda a população brasileira.
Entendemos que o golpe no Brasil, que retirou do poder a Primeira mulher eleita Presidenta da República, Dilma Rousseff, encontra suas motivações na disputa de classe e faz parte de um projeto de poder e concentração de renda internacional, que vem suprimindo direitos humanos, civis e trabalhistas no mundo, tendo países como Grécia, Argentina, México, Espanha, França, Portugal, dentre outros, já tendo sofrido duras ações no mesmo sentido das reformas que estão sendo implantadas no Brasil (trabalhista, previdenciária e terceirização) e alguns também pela criminalização de lideranças de esquerda.
Assim, o golpe vem cada vez mais cerceando os direitos, seja pela aprovação relâmpago da Lei ”antiterrorismo” (Lei 13.260/15) que tem como intuito liberar a forte repressão policial contra os movimentos sociais e manifestações públicas. Além disso, passamos pela desarticulação dos espaços de controle social, com a inviabilização de funcionamento de conselhos e comitês nacionais, bem como o não financiamento e limitação de recursos das conferências, como ocorreu com a conferência de Igualdade Racial.
Também, o projeto da direita acelerou o curso do extermínio de lideranças dos movimentos sociais e sindicais, lideranças indígenas e quilombolas, bem como de liderança políticas como a da vereadora Marielle Franco e outros pelo Brasil. Crimes sem investigações sérias e com poucas perspectivas de punição real dos culpados, seja pelo processo investigativo oportunamente ineficiente, seja pela morosidade do judiciário, que historicamente favorece a partidos e classes econômicas da elite brasileira.
Assim, repudiamos o extermínio físico, a condenação sem provas, a prisão arbitrária e a tentativa de criminalizar nossas lideranças, como no caso do ex-presidente Lula e da Vereadora Marielle Franco, não permitiremos a construção de narrativas que matem simbolicamente o que estas pessoas representam, pois suas vozes não podem ser caladas e continuarão a ecoar através de nossa militância e luta cotidiana.
Logo não podemos dissociar o golpe da luta de classes e pelos direitos humanos, pois foi nos governos de Lula e Dilma Rousseff que o país superou o declínio econômico ocasionado pela implantação da agenda neoliberal (1980-2003), período no qual a economia brasileira cresceu em média 0,2% ao ano. Enquanto nos governos petistas (2003 a 2014) a pobreza foi reduzida 55%, o salário mínimo teve um aumento real de 76%, o país atingiu o pleno emprego e as desigualdades sociais foram reduziram drasticamente.
Foram estes os governos que mais construíram universidades e instituições de ensino superior e possibilitaram que pela primeira vez várias famílias tivessem a primeira geração cursar uma faculdade. Bem como ampliou o acesso da população negra ao nível superior, pós-graduação e ao emprego público.
Foi através destes governos que muitas mulheres que foram mães jovens alcançaram o sonho de dar continuidade a seus estudos, através do financiamento de creches aos municípios, escola de tempo integral e pelo ProJovem, bem como milhões de famílias realizaram o sonho da casa própria.
Foram estes governos que implementaram o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/10), o ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Lei nº 10.639/03), o Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852/13), o Plano Nacional de promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT (2009), o Programa Brasil sem Homofobia (2004), dentre outra importantes conquistas.
Assim, é inaceitável usar as falhas sistêmicas no sistema judiciário e de segurança pública, como a morosidade do judiciário em julgar, a não investigação e apuração dos fatos pelos órgãos competentes como prerrogativa para violar direitos constitucionais, da mesma forma que se justificaram os atos da Ditadura Militar de 1964.
Logo repudiamos o voto de magistrados que citam o alto índice de impunidade de homicídios no Brasil para justificar início do cumprimento de pena em segundo instância de alguém que não oferece risco a vida de ninguém, e ainda, com voto anterior pela liberdade de alguém que foi flagrado fazendo esse tipo de ameaça por escutas telefônicas.
Temos ciência de que o golpe não acabará com a prisão de Lula ou a cassação dos registros dos partidos de esquerda, pois continuará com o massacre aos movimentos sociais, com a possível suspensão do processo eleitoral deste ano e até com uma nova intervenção militar a nível nacional, mas profunda do que a que ocorre hoje no Rio de Janeiro, como vários militares vem se pronunciando nos últimos anos pelas redes sociais e até em entrevistas.
Assim, reiteramos nossa posição contra o golpe e a ruptura democrática que provocou, e, nos solidarizamos com PT e com o ex-presidente Lula, que são hoje os maiores alvos, pois atualmente são os únicos em condições de disputa pelas vias democráticas com a direita.

# LulaLivre
#MarielleVive